O Doutor Rios já havia entrevistado alguns candidatos e pré-selecionou alguns que passaram por um teste inicial. Peneira daqui, filtra dali, sobraram apenas dois deles. Um chamava-se Everaldo Paz; e o outro, Ferdinando Ferreira.
Chegou a hora da entrevista derradeira. Estavam os dois sentados na recepção, aguardando a vez, e um tanto ansiosos, pois foram avaliados candidatos fortes. Os demais funcionários também estavam muito curiosos para saber quem seria o escolhido.
O primeiro a ser chamado pelo Doutor Rios foi o Everaldo Paes, que entrou na sala, cumprimentou-o educadamente e sentou-se. Passada a conversa inicial, por fim o assunto principal. Doutor Rios perguntou:
- Muito bem, Senhor Everaldo. Qual sua idade?
- Trinta e oito.
- Quantos anos de carreira tem?
- São dezesseis anos trabalhando.
- Em quais empresas?
- Bem, comecei bem jovem, na "Verde", mesma empresa que do concorrente, o Sr. Ferdinando. Ali fiquei por cerca de três anos. Minha carreira não decolava, então me demiti e assumi um cargo melhor na empresa "Democráticas". Mas não fiquei satisfeito. Saí dali para algo ainda melhor na outra empresa, a "Trabalhadores do Brasil". Mas sabe, doutor, me arrependi e voltei. Até porque a oferta que me fizeram foi muito boa mesmo, e pensei: por que não? Passou mais um tempo, e a gente tem que evoluir, certo? Resolvi pedir demissão novamente e tentei carreira na "Tucana". Só que perdi a vaga para o Sr. Sobral, que o senhor conhece - ele trabalha aqui. Mas o destino é coisa interessante: acabamos amigos e ele até me indicou para esta vaga aqui.
- E o que o senhor pretende realizar aqui, caso seja admitido?
- Sinceramente, doutor, para fazer alguma coisa, vou pedir a ajuda do Sr. Sobral e do pessoal do alto escalão. Sabe como é, esta empresa está passando por uma séria crise e não podemos nos isolar.
- Soube que o senhor andou falando coisas sobre o alto escalão...
- Não vou negar o passado. Mas até enviei uma carta pedindo desculpas. É importante fazer alianças.
- Porque o senhor mudou tantas vezes de empresa?
- Como eu já disse, temos que evoluir. A propósito: teremos que fazer algumas concessões. Está preparado?
Dr. Rios não respondeu. Despediram-se. Preferiu chamar o próximo candidato e ouvir suas respostas antes de resolver quem escolher. Pausa para um café.
Chegou a hora da entrevista derradeira. Estavam os dois sentados na recepção, aguardando a vez, e um tanto ansiosos, pois foram avaliados candidatos fortes. Os demais funcionários também estavam muito curiosos para saber quem seria o escolhido.
O primeiro a ser chamado pelo Doutor Rios foi o Everaldo Paes, que entrou na sala, cumprimentou-o educadamente e sentou-se. Passada a conversa inicial, por fim o assunto principal. Doutor Rios perguntou:
- Muito bem, Senhor Everaldo. Qual sua idade?
- Trinta e oito.
- Quantos anos de carreira tem?
- São dezesseis anos trabalhando.
- Em quais empresas?
- Bem, comecei bem jovem, na "Verde", mesma empresa que do concorrente, o Sr. Ferdinando. Ali fiquei por cerca de três anos. Minha carreira não decolava, então me demiti e assumi um cargo melhor na empresa "Democráticas". Mas não fiquei satisfeito. Saí dali para algo ainda melhor na outra empresa, a "Trabalhadores do Brasil". Mas sabe, doutor, me arrependi e voltei. Até porque a oferta que me fizeram foi muito boa mesmo, e pensei: por que não? Passou mais um tempo, e a gente tem que evoluir, certo? Resolvi pedir demissão novamente e tentei carreira na "Tucana". Só que perdi a vaga para o Sr. Sobral, que o senhor conhece - ele trabalha aqui. Mas o destino é coisa interessante: acabamos amigos e ele até me indicou para esta vaga aqui.
- E o que o senhor pretende realizar aqui, caso seja admitido?
- Sinceramente, doutor, para fazer alguma coisa, vou pedir a ajuda do Sr. Sobral e do pessoal do alto escalão. Sabe como é, esta empresa está passando por uma séria crise e não podemos nos isolar.
- Soube que o senhor andou falando coisas sobre o alto escalão...
- Não vou negar o passado. Mas até enviei uma carta pedindo desculpas. É importante fazer alianças.
- Porque o senhor mudou tantas vezes de empresa?
- Como eu já disse, temos que evoluir. A propósito: teremos que fazer algumas concessões. Está preparado?
Dr. Rios não respondeu. Despediram-se. Preferiu chamar o próximo candidato e ouvir suas respostas antes de resolver quem escolher. Pausa para um café.
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Chegou a hora do novo entrevistado. Mesmo ritual: cumprimentos, conversa para descontrair os nervos e a dita entrevista:
- Senhor Ferdinando, me diga. Quantos anos de profissão?
- Tenho quase 50 anos, doutor.
- Humm... bastante tempo. Como foi o seu início?
- Na verdade, comecei escrevendo para um jornal. Temos depois, como todos sabem, houve uma crise séria e acabei me envolvendo demais. Uni-me a uns amigos e participamos de um movimento em que acabamos fazendo uma pessoa de refém. Mas outras pessoas corriam risco de vida. Trocamos uma vida por várias. Mas não se preocupe, hoje sou amigo desse ex-refém. Mas sofri as consequências: acabei levando um tiro, perdi parte do fígado, rim e até fui expulso. Vivi por dez anos fora daqui, me sustentando como podia. Mas ainda assim procurei combater a crise que perdurava.
- E então?
- Bem, finalmente as coisas melhoraram e eu voltei. Escrevi um livro que virou filme, sobre esse assunto. Sabe, muitas pessoas sofreram nessa época.
- Eu sei.
- Bem, continuei escrevendo.
- Sei. Inclusive sobre assuntos não muito convencionais... soube que o senhor tem certas idéias...
- Doutor Rios, é seu direito admitir os meus serviços ou não. Mas espero ser avaliado pela minha capacidade. De qualquer forma, procure colocar seus pré-conceitos de lado por uns momentos, analisar a situação atual da empresa e, a partir daí, tirar suas conclusões sobre as minhas idéias.
- Certo... prossiga. O que fez depois?
- Bem, alguns anos depois comecei no meu atual ramo de atividade. Trabalhei na empresa "Dos Companheiros" por muitos anos.
- Senhor Ferdinando, me diga. Quantos anos de profissão?
- Tenho quase 50 anos, doutor.
- Humm... bastante tempo. Como foi o seu início?
- Na verdade, comecei escrevendo para um jornal. Temos depois, como todos sabem, houve uma crise séria e acabei me envolvendo demais. Uni-me a uns amigos e participamos de um movimento em que acabamos fazendo uma pessoa de refém. Mas outras pessoas corriam risco de vida. Trocamos uma vida por várias. Mas não se preocupe, hoje sou amigo desse ex-refém. Mas sofri as consequências: acabei levando um tiro, perdi parte do fígado, rim e até fui expulso. Vivi por dez anos fora daqui, me sustentando como podia. Mas ainda assim procurei combater a crise que perdurava.
- E então?
- Bem, finalmente as coisas melhoraram e eu voltei. Escrevi um livro que virou filme, sobre esse assunto. Sabe, muitas pessoas sofreram nessa época.
- Eu sei.
- Bem, continuei escrevendo.
- Sei. Inclusive sobre assuntos não muito convencionais... soube que o senhor tem certas idéias...
- Doutor Rios, é seu direito admitir os meus serviços ou não. Mas espero ser avaliado pela minha capacidade. De qualquer forma, procure colocar seus pré-conceitos de lado por uns momentos, analisar a situação atual da empresa e, a partir daí, tirar suas conclusões sobre as minhas idéias.
- Certo... prossiga. O que fez depois?
- Bem, alguns anos depois comecei no meu atual ramo de atividade. Trabalhei na empresa "Dos Companheiros" por muitos anos.
- Por que saiu de lá?
- Ajudei alguns colegas a montar uma empresa, a "Verde".
- É mesmo? E daí?
- Disputei alguns cargos e venci. O tempo passou, me demiti e retornei à empresa anterior. Mas sabe, doutor, a esta altura ela adotava um estilo que não era mais aquele no qual sempre acreditei. Então, após desentendimentos, eu e outros colegas nos afastamos. Muitos fundaram outras empresas, e eu voltei para a "Verde".
- Com a sua volta, o que fez?
- Ocupei cargos, participei de alguns projetos, apresentei e defendi outros...
- ... sempre polêmico.
- É da minha natureza.
- Dizem por aí que o senhor só vai trabalhar para a elite e que não sabe nada a respeito da ala menos rica da empresa. O que me diz?
- Nem que eu quisesse. Já existem projetos aprovados, e quem assumir este cargo terá que cumprí-los.
O tempo acabou e despediram-se.
- É mesmo? E daí?
- Disputei alguns cargos e venci. O tempo passou, me demiti e retornei à empresa anterior. Mas sabe, doutor, a esta altura ela adotava um estilo que não era mais aquele no qual sempre acreditei. Então, após desentendimentos, eu e outros colegas nos afastamos. Muitos fundaram outras empresas, e eu voltei para a "Verde".
- Com a sua volta, o que fez?
- Ocupei cargos, participei de alguns projetos, apresentei e defendi outros...
- ... sempre polêmico.
- É da minha natureza.
- Dizem por aí que o senhor só vai trabalhar para a elite e que não sabe nada a respeito da ala menos rica da empresa. O que me diz?
- Nem que eu quisesse. Já existem projetos aprovados, e quem assumir este cargo terá que cumprí-los.
O tempo acabou e despediram-se.
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Moral da história? Ainda não há, pois Dr. Rios ainda não escolheu quem vai assumir o posto.
E você, pessoa? Se estivesse no lugar dele escolheria quem?
Vote consciente.
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